"Bom mesmo é ir a luta com determinação, abraçar a vida com paixão, perder com classe e vencer com ousadia. Pois o triunfo pertence a quem se atreve... a vida é 'muito', para ser insignificante". Charles Chaplin.



sexta-feira, 15 de outubro de 2021

Aos mestres, com carinho

 

por  Maria Célia Fröhlich, professora

 Sou professora. Nasci no momento exato em que o país passava por grandes transformações (1968) e perguntas saltavam da boca. Fui muitas pessoas em muitos lugares: Fernando Pessoa, Mário Quintana, Machado de Assis, Jorge Amado, Lewis Carroll, Bocage, Érico Veríssimo, Paulo Freire... Os nomes daqueles que praticaram minha profissão soam no corredor da fama da humanidade: Buda, Confúcio, Moisés e Jesus. Sou também aqueles cujos nomes me ensinaram, às vezes já esquecidos, mas cujas lições e caráter serão sempre lembrados nas minhas realizações: minhas professoras e meus professores. Chorei de alegria nas formaturas dos alunos, gargalhando de felicidade em suas escolhas profissionais, na conquista de seus sonhos e com a cabeça baixa de pesar e confusão ao encontrar alunos sem rumo, desnorteados, perdendo-se cedo demais, em corpos jovens demais. Outros que me disseram que “avoaram” porque eu permiti.
 Ao longo de anos fui atriz, amiga, enfermeira, médica, treinadora, descobridora de artigos perdidos, psicóloga, mãe substituta, vendedora, política e mantenedora da fé e esperança. A despeito de gramática, verbos, textos, histórias e livros, fui mediadora, pois, na verdade, ensinei quem busca conhecimento a descobrir-se e, em contrapartida, aprendi com cada aluno e aluna e juntos tentamos desvendar esta complexa e fascinante arte de viver... e eu sei que é preciso o mundo inteiro para dizer a alguém quem ele é, quem ele pode ser e o quanto ele é importante e único. Sou um paradoxo e minhas aulas eram um paradoxo: quando falava alto eu escutava mais, quando silenciava é que as minhas palavras sussurravam, quando letras voavam pela sala eu sabia que procuravam pouso. 
Na verdade, minhas maiores dádivas estão no que recebi, agradecida, de meus alunos e alunas: o olhar penetrante, a sede de aprender, a dúvida, o “sim, eu apreendi, professora”. Fui caçadora de tesouros em tempo integral, em minha busca de novas oportunidades para que meus alunos e alunas descobrissem e usassem seus talentos, às vezes, encobertos pelo medo, escondidos na timidez, reforçados pelo “eu não consigo, eu não sei”, pela auto-derrota. Sou a mais afortunada entre todas, pois a mim foi permitido ver que a vida renascesse a cada dia com novas perguntas, ideias e amizades. Eu sabia que a construção com amor e verdade duraria para sempre. E quantos “para sempre” me dizem até hoje que fiz a diferença em suas vidas.
  Continuo uma guerreira, batalhando diariamente contra a pressão, o negativismo, o medo, o conformismo, o preconceito, a ignorância e a apatia. Meus grandes aliados: Inteligência, Curiosidade, Criatividade. Que bom ver meu passado sendo recheado de memórias. Que bom visualizar um futuro promissor.
Sou professora... e agradeço a Deus por isso todos os dias.
 Com este breve relato pessoal, em que muitas histórias se refletem e se identificam, parabenizo, em nome do Programa Todos Pela Leitura, todos os professores e professoras pela passagem do seu dia. É necessário ter amor, ter esperança, ter vocação. Nosso agradecimento por serem mestres na arte de acreditar e se reinventar. Nossa gratidão por encantarem, todos os dias, cada criança, com vosso conhecimento e afeto.

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