"Bom mesmo é ir a luta com determinação, abraçar a vida com paixão, perder com classe e vencer com ousadia. Pois o triunfo pertence a quem se atreve... a vida é 'muito', para ser insignificante". Charles Chaplin.



quinta-feira, 7 de novembro de 2019

APP-Sindicato: Colégio de Londrina (PR) é alvo de ataques conservadores

Direção do Colégio Estadual Hugo Simas recebe ameaças, após exibição da peça "Quando Quebra, Queima".

A Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE) manifestou moção de repúdio ao episódio.

Intolerância, preconceito e incitação à violência: não, este não foi o conteúdo da exibição artística que causou polêmica no Colégio Estadual Hugo Simas, em Londrina, mas sim o resultado da divulgação de vídeos acusando a equipe pedagógica de “doutrinação” dos(as) estudantes do período noturno.  Tudo começou quando, no dia 1 de novembro, a direção do Colégio londrinense autorizou a apresentação da peça teatral “Quando Quebra, Queima” do Festival Internacional de Londrina (FILO).
De acordo com a equipe teatral e com a direção da escola, a peça, exibida para crianças e jovens em países como Portugal e Inglaterra, recria o período de mobilizações civis contra o fechamento de escolas em São Paulo,  em 2015.  A peça teatral tem classificação indicativa de 10 anos e utiliza técnicas de dança para narrar a resistência estudantil. (Veja a sinopse aqui).
No dia 6 de novembro, um grupo de mães esteve no  Núcleo de Proteção à Criança e ao Adolescente (Nucria) da região para registrar um boletim de ocorrência sobre a apresentação. Segundo as mães, que não assistiram ao espetáculo,  a apresentação teria incitado a violência e a depredação de patrimônio público. Uma das responsáveis divulgou um vídeo nas redes sociais dizendo que os(as) atores(atrizes) são “um bando de vagabundos” que propagavam valores contrários ao conservadorismo. Expressões como “onde já se viu, um homem beijar outro homem?” e “tambores que simulavam uma religião afrodescendentes” são tomados como maus exemplos para os(as) jovens, de acordo com a mãe.
A direção a APP-Sindicato analisou o conteúdo da peça e também atividade proposta pela direção e equipe pedagógica com a exibição do espetáculo.”A comunidade escolar do Colégio Hugo Simas está sendo vítima de um movimento autoritário, de intolerância e ilegal”, afirma o presidente do Sindicato, Hermes Silva Leão. Diante deste entendimento, a APP-Sindicato pautou a Secretaria estadual de Educação (Seed), em reunião ocorrida nesse dia 6 de novembro, cobrando uma manifestação pública em defesa da escola. “Este movimento de difamação de educadores, que não é novo, faz parte desse movimento nacional da intolerância deste processo do ensinar e do aprender. Em nome da segurança do trabalho pedagógico, é  preciso que o governo se manifeste nesta defesa. Não dá para deixar nossas escolas a mercê sanha de movimentos que veem no conhecimento e no papel da escola, uma ameaça aos seus intentos autoritários e ditatoriais. A equipe que participou da reunião tem um entendimento, a priori, em sintonia com o entendimento que nós apresentamos e ficou de passar ao secretário este parecer.  Continuaremos dialogando com o governo neste sentido”, explica Hermes.
“Estão atribuindo à peça um conteúdo que ela não transmite. Todo este movimento contrário de homofobia, de racismo e de intolerância religiosa prejudica a escola, os trabalhadores e os estudantes. Estamos analisando juridicamente uma resposta para essa difamação e repercussão de notícias falsas”, adianta o secretário de Assuntos Jurídicos, Mario Sergio de Souza.
O presidente da Núcleo Sindical da APP-Sindicato em Londrina, professor Márcio Andre Ribeiro esteve, na manhã desta quinta-feira (07), na 10ª Delegacia de Policia Civil 10ª subdivisão da cidade para acompanhar a equipe pedagógica do Colégio. “A direção vem sofrendo ameaças de morte e agressão, por conta da repercussão nas mídias sociais em função do vídeo da mãe postado no Facebook e divulgado no Whatsapp. O material gerou uma repercussão negativa em relação aos diretores. Além das medidas legais está sendo organizado uma reunião dos movimentos sociais e para organizar um ato em apoio ao Colégio”, salienta o presidente.
A APP-Sindicato acompanhará o desdobrando do caso e manifesta publicamente apoio à comunidade escolar do Colégio Estadual Hugo Simas.

A Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE) manifestou moção de repúdio ao episódio:
CNTE: Cidade de Londrina (PR) é a vítima de mais um ataque à escola pública, às artes e ao exercício livre do magistério

A apresentação de uma peça de teatro no espaço de uma escola pública tradicional da cidade de Londrina (PR) foi o estopim para mais um caso de atentado contra a educação e o exercício livre da profissão de professor em nosso país. A tese de que a censura já está instaurada no Brasil, não através de atos normativos ou legais, mas por meio da difusão de um caldo cultural difuso, se comprova agora, infelizmente, mais uma vez.
Na última sexta-feira (01/11), no âmbito do Festival Internacional de Londrina (FILO), um grupo de teatro usou a estrutura do Colégio Estadual Hugo Simas, no centro da cidade, para fazer uma apresentação na escola, no período noturno. A peça teatral tratava de temas adequados à faixa etária dos estudantes ali presentes, relativos às questões prementes da juventude, de seu acesso à educação e de valorização da diversidade, em absoluta consonância com o projeto pedagógico da escola.
A reclamação de uma mãe da escola nas redes sociais viralizou e se deu em decorrência da postagem de um vídeo na Internet reclamando do conteúdo da peça na escola. Isso repercutiu de forma sensacionalista tanto na imprensa local quanto por meio de declarações desastrosas de homens públicos que fazem das questões morais seu principal palanque. Criou um clima de perseguição e ataques aos professores e à direção da escola que, agora, sentem-se ameaçados. A mãe, em tom eufórico, e sem sequer conversar previamente com a direção escolar, passou a convocar uma manifestação na porta do Colégio para a última terça-feira. Apesar da presença diminuta de apenas 15 pessoas na dita manifestação, o estrago já estava feito: a censura à apresentação teatral na escola, e os ataques violentos nas redes sociais aos professores e à direção escolar, contendo até ameaças de morte, já estava instituída.
Os tempos sombrios em que vivemos fez a denúncia vazia ganhar mais repercussão do que a importante tarefa pedagógica da escola de oferecer arte e cultura aos seus estudantes. Escola tradicional da cidade e habituada a acolher e oferecer aos seus estudantes manifestações culturais e artísticas diversas, o Colégio Estadual Hugo Simas deve receber nossa solidariedade irrestrita. Da mesma forma e na mesma proporção, devemos todos repudiar de forma veemente mais essa manifestação de intolerância e de tentativa de censura e cerceamento ao direito constitucional da liberdade de aprender e ensinar.
As violentas manifestações que se percebem agora nas redes sociais contra a escola e seus profissionais deveriam ser motivos suficientes de vergonha. Vergonha do nosso fracasso enquanto sociedade! Qual foi o momento em que se deu essa virada em nosso país, em que os/as professores/as e a educação pública viraram alvos de ataques? Nós temos algumas pistas quanto a essa resposta e todas indicam que esse caldo cultural nasce e cresce com discursos de ódio que, propalados à exaustão por representantes políticos tanto nos parlamentos quanto na própria Presidência da República, não podiam gerar outra situação se não exatamente essa que estamos vivendo. É por isso que os/as educadores/as em todo o país não se sentirão acuados por ataques dessa natureza e, nesse momento, nos colocamos ao lado da educação pública e da livre manifestação artística em nosso país. Toda solidariedade ao corpo de profissionais da educação do Colégio Estadual Hugo Simas, de Londrina! Esse pesadelo dos dias de hoje há de acabar. O clima de perseguição e denuncismo não irá prosperar. Não existe educação sem liberdade, e dela não abrimos mão!

Brasília, 07 de novembro de 2019
Direção Executiva da CNTE

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